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Artigo: A educação caminha de mãos dadas com o alimento na escola

Dia Internacional da Educação é oportunidade para refletirmos sobre a importância da alimentação de qualidade como direito humano dos estudantes

Najla Veloso*

Importante refletir neste Dia Internacional da Educação, em janeiro de 2022, que, após mais de dois anos, ainda vivemos os desafios da pandemia. De acordo com dados das Nações Unidas, o fechamento das escolas segue impactando 31 milhões de pessoas em diferentes regiões do planeta. Se nada for feito, o abandono escolar e a redução da permanência estudantil, que em muitos países de nossa região já eram desafios, podem ganhar proporções ainda maiores.  

Por isso, faço eco às palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre a importância de se reforçar o compromisso com a educação, colocando-a no centro dos esforços da recuperação pós-pandemia, do alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do debate público de alto nível.  

Para reafirmar essa importância, acrescento outro item crucial na discussão: não se pode aprender com fome. Vários estudos já evidenciaram que aprendizagem, rendimento e melhor aproveitamento na escola estão associados diretamente a condições de saúde e de segurança alimentar.  

Nos últimos dois anos, com a pandemia, ficou ainda mais evidente que os programas de alimentação escolar são políticos públicas de proteção social e de direito humano das mais relevantes e necessárias. Nesse cenário, foi revelado o alto potencial de mobilização e organização da comunidade escolar. Ou seja, em situações de vulnerabilidade sanitária, de distanciamento social e de incertezas, é possível dar respostas emergenciais à comunidade porque ela está articulada a partir da alimentação oferecida pela escola. E não foram poucas as crianças, adolescentes e jovens que encontraram na comida oferecida pela escola, nos kits distribuídos às famílias, sua principal ou única refeição do dia. Ou, ainda, a mais saudável. Isso ouvimos ao longo desse período nos inúmeros diálogos entre países e no contato direto com colegas dos países vizinhos, nas mais diferentes latitudes.

Sabemos que a escola é o local capaz de transformar cenários, realidades e culturas. E que a educação é a ferramenta mais potente na promoção de novas perspectivas e possibilidades para grande parte das populações. A escola é o espaço onde os estudantes podem conhecer novos caminhos e sonhar com um futuro melhor para si e seus familiares. Com a política inclusiva da alimentação escolar, a escola tornou-se também um espaço para onde milhares de agricultores e agricultoras podem comercializar com o Estado e ofertar alimentos saudáveis como frutas, verduras, legumes, leite, ovos e outros.

São alimentos com valor agregado por serem produzidos pelas mãos de quem vive na região, de quem vê seus filhos, filhas, netas e netos sendo alimentados com seu esforço. Seguramente, uma iniciativa de duplo benefício, em que produtores e produtoras rurais passam a ter um mercado garantido e estudantes passam a receber alimentos frescos, saudáveis e adequados. 

Cooperação 

O trabalho da Cooperação Internacional Brasil-FAO em alimentação escolar, realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ao longo dos treze últimos anos, vem apoiando os países da América Latina e do Caribe a consolidarem e potencializarem políticas de alimentação escolar, aumentando seu alcance, garantindo sua continuidade, definindo orçamentos e estruturando marcos legais. Em poucas palavras, fomentando essa política tão transversal e de longo alcance e beneficiando mais estudantes dos mais de 30 países da região. 

São muitos. Dados da ONU indicam que 388 milhões de estudantes dos cinco continentes podem encontrar na política de alimentação escolar a garantia de seu Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) no período em que estiverem na escola. Isso é muito, principalmente aliado a processos de educação alimentar e nutricional, com impacto direto na cultura alimentar dessa e das próximas gerações.   

No Dia Internacional da Educação, há um macro e imponente desafio global ecoando em todos os países: a necessidade de garantir condições para que todos lutem, em igualdade de condições, por melhor qualidade de vida. Sem sombra de dúvida, defender a entrega de alimentos saudáveis, de qualidade nutricional na escola, de forma contínua, para todos os estudantes, com a implementação de atividades educativas, e com compra pública de produtos locais, significa defender a qualidade da educação e de vida para os estudantes. Significa defender um futuro melhor e mais saudável para esta e para as próximas gerações. Não resta dúvida de que consolidar políticas sustentáveis, que efetivamente alcancem os nossos estudantes, é parte de nossas mais nobres tarefas na reconstrução da educação, da economia e da vida de nossa gente.  Decididamente, a educação que desejamos caminha de mãos dadas com o alimento na escola. 

*É coordenadora regional do programa de alimentação escolar da Cooperação Brasil-FAO