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‘Horta é o instrumento mais efetivo para educar com foco em nutrição’

Nutricionista Maria Angela Delgado conta como Jundiaí-SP se transformou em referência nacional para a alimentação escolar

Paulo Beraldo

Jundiaí, cidade localizada a poucos quilômetros de São Paulo, é referência nacional quando o assunto é alimentação escolar, principalmente por conta da produção orgânica de alimentos, a implementação de dezenas de hortas escolares e a utilização das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) nos pratos produzidos diariamente para os estudantes. 

O município tem cerca de 430 mil habitantes e mais de 63 mil estudantes matriculados na rede pública estadual e municipal. Eles recebem diariamente alimentos e hortaliças cultivadas na horta orgânica Vale Verde. São 15 mil metros quadrados de área cultivável em um trabalho que já foi certificado pela Organização Internacional de Agropecuária (OIA). Nessa horta, há um espaço de 4.500 m² dedicados exclusivamente para as PANC, que tem se multiplicado pelas escolas da cidade através do projeto Inova na Horta. Uma  experiência inovadora que rendeu à cidade paulista reconhecimento nacional. 

“É uma das maiores hortas orgânicas do Brasil, abastecendo a rede municipal e estadual da cidade”, diz a nutricionista Maria Angela Delgado, diretora do Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN), que faz parte da Unidade de Gestão de Educação (UGE) de Jundiaí. Todas as escolas recebem produtos como rúcula, alface, couve, cenoura, beterraba, além de PANC como vinagreira, ora-pró-nobis, azedinha, chaya, entre outras. “Os produtos vão mudando conforme a época do ano”, explica Delgado. 

O projeto, sob coordenação técnica do Instituto Kairós,  estimulou a produção de PANC nas escolas e capacitou os gestores, técnicos e responsáveis por esses espaços nas escolas em temas como a implementação de hortas, a produção de PANC, educação e consumo saudável, como inserir essas plantas nas receitas, entre outros temas. Delgado destaca o papel protagonista dos cozinheiros em Jundiaí – são cerca de 500 na cidade, que integram a equipe de educação e participam de formações continuadas. 

Lá, as PANC servem como ingredientes em receitas já existentes, capazes de enriquecê-las, agregando sabores e valorizando a rica biodiversidade local e regional. “Podemos colocar no feijão, no refogado, no arroz, na omelete, na salada, elas são muito versáteis e ricas em nutrientes diversos”, conta. 

As PANC e as hortaliças fazem sucesso com os pequenos devido ao planejado e bem-sucedido trabalho de introdução alimentar. “As crianças comem rabanete como se fosse uma maçã, e esse é um alimento que às vezes até adultos têm resistência”. 

Nas unidades de educação infantil (creches), mais de 90% do consumo das hortaliças vêm da horta Vale Verde. No restante das escolas, a quantidade é próxima de 70%. O Vale Verde é aberto aos estudantes, que fazem visitas e podem se aproximar da produção de alimentos e entrar em contato com os 11 agricultores que cuidam do local. “Sem esses heróis não teríamos nada e é fundamental que as crianças aprendam desde cedo a valorizar a agricultura”. 

Para Delgado, a horta é um universo de possibilidades para as diferentes aprendizagens, é um dos instrumentos de educação alimentar e nutricional mais poderoso e efetivo existente. “Ela promove maior preocupação e conscientização sobre a produção de alimentos, sobre o meio ambiente e gera hábitos de vida mais saudáveis”, avalia. 

“Ao conhecer o cultivo na horta, os estudantes também entendem mais sobre uma alimentação variada e como valorizar alimentos naturais e produzidos localmente e levam essa experiência para as famílias”, acrescenta. O objetivo da gestão é que até 2023 todas as escolas municipais contem com suas próprias hortas. 

Questionada sobre o que explica o sucesso de Jundiaí, a nutricionista não pensa duas vezes: “Foi um processo de construção e tivemos a sorte de termos gestores que acreditaram e ouviram os nutricionistas e a parte técnica da alimentação escolar ao longo dos anos”, afirma. 

Hoje, a cidade tem cerca de 140 escolas públicas e em 84 escolas municipais há hortas escolares. Com mais de 30 anos de experiência no setor, Delgado afirma que as escolas são espaços fundamentais não só para promover a segurança alimentar, mas para contribuir com o desenvolvimento e a saúde das crianças. Para isso, acredita que educar com foco na nutrição é crucial para fomentar uma geração com hábitos mais saudáveis, consciente de suas escolhas alimentares.