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Professora ensina estudantes a combater o desperdício de alimentos em Itajaí

Crianças aprenderam sobre consumo consciente de alimentos e mudaram hábitos em casa e na escola

No município de Itajaí, em Santa Catarina, o drama da falta de acesso a alimentos transformou a vida dos 46 estudantes do 5º ano do ensino fundamental da Escola Básica Professor Judith Duarte de Oliveira. Isto porque a professora Patrícia Wanderlinde Alves ficou impactada com os números da fome – de acordo com o Programa Mundial de Alimentos (WFP), 881 milhões de pessoas não têm o que comer em todo o mundo, sendo 48,6 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar moderada ou severa.

Inconformada também com os dados do desperdício de alimentos revelado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) – em 2019, 931 milhões de toneladas de alimentos foram para o lixo -, a professora resolveu levar para sala de aula ensinamentos para diminuir o desperdício e mudar hábitos de consumo na escola e dentro de casa.

Estudantes da Escola Básica Professor Judith Duarte de Oliveira, de Itajaí (SC)
Foto: © Arquivo pessoal

Patrícia desenvolveu e implementou para os estudantes da faixa de 10 anos de idade o projeto Tempo Esgotado: durante uma semana, eles anotaram tudo o que comeram e desperdiçaram. Impressionados com os resultados, eles  reuniram informações sobre o consumo consciente de alimentos e criaram um folder e cartazes, que foram distribuídos dentro da escola, em ônibus e pontos comerciais com grande circulação de pessoas.

Os estudantes também fizeram palestras para as outras turmas do colégio, que foram gravadas e disponibilizadas num canal no Youtube. O projeto trabalhou com as informações dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e incluiu ainda um curta metragem mostrando como o desperdício de alimentos acontece dentro de casa.  

“As crianças realmente se empenharam e queriam fazer o máximo que podiam. Toda a construção dos vídeos e folders foi feita a partir de ideias delas. Os estudantes arrecadaram  alimentos para famílias carentes, o que envolveu toda a escola. No final, o trabalho gerou inclusive uma conscientização financeira”, contou a professora em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio). Ela pretende repetir a iniciativa neste ano.

“Eu gostei muito desse projeto, ele me conscientizou muito sobre a fome que acontece no mundo. Não podemos ver todo esse desperdício e não fazer nada!”, explica o aluno Henrique Rafael. A estudante Maria Luíza conta que os ensinamentos mudaram a rotina dentro de casa: “Eu vou levar esse projeto para a minha vida toda. As atitudes da minha casa mudaram muito. Meu pai começou a usar as sobras do dia anterior. Minha mãe não usava frutas feias e agora usa”, explica a garota. Para Gustavo, o projeto pode ajudar o Brasil. “ A cada um minuto, 11 pessoas morrem de fome e isso é muito triste. Por isso, temos que parar de jogar comida no lixo!”, alerta o menino.

A professora Patrícia Wanderlinde Alves e os estudantes da 5º ano da Escola Básica Professor Judith Duarte de Oliveira. Foto: Arquivo pessoal

Alimentação escolar – Projetos como o da professora Patrícia são fundamentais para uma alimentação escolar sustentável. Segundo a coordenadora do projeto Consolidação de Programas de Alimentação Escolar na América Latina e no Caribe (Programa de Cooperação Internacional entre Brasil e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura/-FAO), Najla Veloso, esse tipo de trabalho concilia o aprendizado dos estudantes com outras áreas do conhecimento, criando conexões entre as realidades locais e o e o dia a dia de cada um.

“As ações para combater o desperdício e de educação alimentar e nutricional são importantes para promover o desenvolvimento intelectual, físico, emocional e social dos estudantes. Além disso, ao estimularem hábitos de vida saudáveis, as escolas constroem entornos mais saudáveis, uma vez que os hábitos são transmitidos também para familiares e todo a comunidade”, explica Najla.

“É fundamental que a escola seja um espaço de formação de hábitos de vida saudáveis, como o consumo consciente e a redução das perdas e desperdícios, o que pode ser feito com diversas ações de educação alimentar e nutricional (EAN). Também é importante identificar os recursos ambientais, pessoais e econômicos investidos na produção de alimentos. Esse seria um ponto de partida para a consciencialização sobre o seu valor e suas consequências para o meio ambiente”, acrescenta Najla.

As escolas também são fundamentais no combate à fome. De acordo com a especialista da FAO, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) brasileiro, que atende a cerca de 41 milhões de estudantes, diária e universalmente, é  considerado uma referência regional e global de política pública de êxito.

O Programa Mundial de Alimentos também atua no combate ao desperdício e na superação da fome. Todos os anos, o WFP  promove uma campanha global de conscientização, chamada Zerar o Desperdício, e opera o Centro de Excelência contra a Fome em conjunto com o governo brasileiro. A missão do Centro é apoiar países em desenvolvimento na criação e implementação de soluções sustentáveis ​​contra a fome a partir das experiências exitosas desenvolvidas no Brasil.

Conteúdo publicado originalmente no site da ONU Brasil e adaptado pela equipe da RAES