“As experiências dos países são diferentes, mas há muitos objetivos comuns que nos unem na alimentação escolar”

Confira a entrevista com Oralia Robles, que atua no programa de alimentação escolar de El Salvador

Paulo Beraldo

Embora seja verdade que cada país tenha seus próprios desafios em relação à alimentação escolar – seja construir um quadro normativo, melhorar a infraestrutura das escolas ou fortalecer a agricultura familiar – há muitos objetivos em comum, como promover melhores práticas e estratégias para garantir uma alimentação saudável, realizar ações de educação alimentar e nutricional, aumentar as compras públicas de alimentos da agricultura familiar e melhorar a qualidade do cardápio escolar. 

É o que afirma Oralia Robles, técnica do programa de alimentação escolar do Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia de El Salvador, em entrevista à Rede de Alimentação Escolar Sustentável (RAES). Ela comenta que o país fez muitos avanços na última década e destaca o apoio da Cooperação Internacional Brasil-FAO no intercâmbio de experiências, no fortalecimento das capacidades dos profissionais e no apoio à implementação da metodologia das Escolas Sustentáveis.

Quais são os principais benefícios que a senhora destacaria do apoio da Cooperação Internacional Brasil-FAO ao programa de alimentação escolar de El Salvador?

Em relação ao apoio que recebemos da Cooperação Brasil-FAO, estamos trabalhando juntos desde 2012 em várias ações. Uma delas foi a metodologia das Escolas Sustentáveis, na qual começamos inicialmente com apenas 9 escolas, mas conseguimos expandir. De 9 passamos para 20 escolas e depois para 450 escolas, nas quais oferecemos uma alimentação adequada, diversificada e equilibrada para nossos estudantes.

Outro tema muito importante é a educação alimentar e nutricional, que abordamos com a Cooperação Brasil-FAO, tratando da EAN por meio de diferentes estratégias para a comunidade educacional. Trabalhamos em diversos cursos com professores de diferentes níveis educacionais em várias regiões do país. 

Também levamos essas ações aos pais por meio de workshops formativos e práticos. E, claro, formamos e capacitamos os estudantes, com a experiência de “jovens promotores de segurança alimentar e nutricional”, alcançando um aprendizado significativo e vivencial com eles.

A senhora pode detalhar um pouco sobre o progresso das compras públicas no país?

As compras públicas foram realmente resultado de um trabalho conjunto entre diferentes instituições. Embora o programa de alimentação escolar seja executado pelo Ministério da Educação, é importante destacar o trabalho conjunto com os Ministérios da Saúde, Agricultura e Desenvolvimento Territorial, o que nos permitiu organizar produtores locais de alimentos para melhorar os mecanismos de compras públicas de alimentos nas regiões. Além disso, fortalecemos as capacidades da comunidade educacional e, especialmente, dos agricultores familiares, que são responsáveis por produzir e fornecer alimentos ao sistema educacional.

Avançamos na organização dos produtores da agricultura familiar, estabelecemos comitês de alimentação escolar nas escolas, coordenamos ações com as prefeituras municipais. Em alguns casos, houve a criação de governança municipal que apoia na identificação de fornecedores locais. 

Também é importante mencionar que o governo de El Salvador alocou fundos para executar o programa de alimentação escolar, para a compra de uma cesta básica de alimentos não perecíveis. Além disso, estabelecemos um mecanismo de transferência de fundos para as escolas. Isso permite que as escolas estabeleçam contratos com a agricultura familiar, comprando alimentos frescos semanalmente. E o pagamento aos fornecedores é feito após a entrega do produto.

Ao analisar as experiências e intercâmbios promovidos neste encontro da Rede de Alimentação Escolar Sustentável, o que a senhora acredita que pode ser adaptado para El Salvador?

Cada país tem diferentes experiências e realidades, mas tenho certeza de que essa troca de experiências nos fornece muitos elementos importantes que nos unem, ajudando a identificar pontos fortes e áreas de melhoria nos programas de alimentação escolar. 

Além disso, podemos replicar e adaptar algumas estratégias para fortalecer os mecanismos de compras de alimentos, propor planos de formação de professores, promover hábitos alimentares saudáveis, fortalecer as habilidades dos manipuladores de alimentos e promover estilos de vida saudáveis entre os estudantes. É importante destacar que esta Rede busca a integração de todos os países para alcançar objetivos e metas comuns em benefício dos estudantes de cada país.