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Países da América Latina impulsionam ações de educação alimentar para combater o desperdício de alimentos nas escolas

Rede Alimentar Escolar Sustentável (RAES) promoveu diálogo entre países para a troca de conhecimentos e boas práticas, aliando educação alimentar e combate ao desperdício.

Santiago do Chile, 29 de abril de 2021 – “É imprescindível aprofundar a reflexão sobre os impactos do desperdício, principalmente neste contexto de pandemia em que vivemos”, disse o embaixador Ruy Pereira, diretor da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), na abertura do Diálogo sobre Desperdício de Alimentos nas Escolas: Desafios e Possibilidades, promovido pela Rede de Alimentação Escolar Sustentável (RAES), no dia 27 de abril. O diretor destacou a aliança do Brasil com a FAO na cooperação sul-sul trilateral realizada há mais de 12 anos, afirmando que a alimentação escolar representa uma alternativa concreta para combater a fome e a pobreza e promover o desenvolvimento econômico e a inclusão social. 

A RAES foi criada em 2018 pelo Governo do Brasil, representado pela ABC/MRE e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), e conta com o apoio da FAO no âmbito do projeto Consolidação de Programas de Alimentação Escolar na América Latina e no Caribe. Atualmente, a Rede é formada por 21 países da região. 

O diálogo virtual foi assistido por mais de 2.200 telespectadores ao vivo, entre gestores e técnicos de governos de países da região e outros interessados ​​no assunto. O evento promoveu a troca de experiências para a construção de conhecimentos e de boas práticas relacionadas à mitigação do desperdício de alimentos em ambientes escolares. Veja a gravação do evento: parte 1 e parte 2

Na inauguração, o presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, disse que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) passou a ser um canal de promoção de hábitos alimentares saudáveis ​​e que pode contribuir muito para o avanço dos programas de alimentação escolar na América Latina e no Caribe. Segundo Ponte, o PNAE é um programa que atende mais de 40 milhões de estudantes com alimentação escolar todos os dias: “São mais de 50 milhões de refeições servidas diariamente”, destacou. 

Já o representante da FAO Brasil, Rafael Zavala, destacou a “necessidade de estatísticas mais claras sobre o desperdício de alimentos nas escolas” para um melhor planejamento das ações. O representante destacou a importância de priorizar o consumo de alimentos in natura, comprando da agricultura familiar e adequando a alimentação às tradições locais. Sobre a RAES, disse que a Rede “pode ​​servir como agente de mudança no Brasil e nos países da região”. 

Perdas e desperdícios na região

O oficial de Políticas e Sistemas Alimentares do Escritório da FAO para a América Latina e Caribe, João Intini, apresentou um cenário regional de perdas e desperdícios. Segundo Intini, é importante saber quais recursos ambientais, pessoais e econômicos são investidos na produção de alimentos porque este seria um ponto de partida para a consciencialização sobre o seu valor e suas consequências para o meio ambiente. “As perdas e desperdícios de alimentos são uma oportunidade para mudar o padrão de consumo, voltar a consumir alimentos frescos e saudáveis.” Ele também defendeu a tecnologia, a criatividade e a cooperação para mitigar o problema. 

Panorama do desperdício de alimentos e o ambiente escolar 

A coordenadora regional do projeto Consolidação dos Programas de Alimentação Escolar na América Latina e Caribe, Najla Veloso, apresentou reflexões sobre o desperdício de alimentos e sua relação com a alimentação escolar. Veloso disse que o desperdício no ambiente escolar ocorre em vários espaços, tem responsabilidades compartilhadas por vários atores e ressaltou, ainda, que o assunto está relacionado com questões ambientais, sociais, culturais e econômicas. 

Veloso destacou a importância do planejamento para prevenir ou mitigar o desperdício nas escolas, apontando como uma das soluções a otimização do aproveitamento dos resíduos orgânicos e não orgânicos produzidos durante o preparo e consumo dos alimentos. “A melhor prevenção é ter cardápios adequados e saudáveis ​​de acordo com os hábitos alimentares de cada país”, afirmou. 

Experiência brasileira 

Karine Santos, coordenadora nacional do PNAE do Brasil, apresentou as ações do FNDE para reduzir o desperdício de alimentos nas escolas com base na política de alimentação escolar do país. Segundo a coordenadora, “a alimentação escolar tem um grande impacto na sociedade”. Ela também destacou a universalidade do programa brasileiro que atinge mais de 150 mil escolas públicas. Como uma das estratégias de educação alimentar e nutricional, Santos comentou a ação desenvolvida nos livros didáticos distribuídos nas escolas públicas da educação básica, que trazem mensagens sobre alimentação saudável na contracapa da publicação. 

Sobre a questão do desperdício de alimentos nas escolas, a coordenadora do PNAE apresentou dados de uma pesquisa sobre a atuação dos nutricionistas do programa nessa temática. Segundo o estudo, 65% dos nutricionistas responderam que o tema de desperdícios faz parte da sua rotina e do planejamento. Em relação às perdas e desperdícios, 68% dos profissionais de nutrição classificam o volume como baixo e 38% não sabem estimar o percentual de desperdício. A mensuração das perdas e desperdícios nas escolas foi realizada por meio do monitoramento e da pesagem do restante dos alimentos e sobras limpas, aplicação de teste de aceitabilidade e observação visual, entre outros. 

Visão geral das ações da FAO 

O oficial de Nutrição da FAO Mesoamérica, Israel Ríos, apresentou um panorama das ações realizadas pela FAO para combater a pobreza e a desnutrição na região, destacando que entre 20 e 40% dos estudantes da América Latina são obesos ou estão com sobrepeso. Ríos ressaltou a relevância da alimentação escolar para garantir uma alimentação saudável e disse que é importante que os problemas de fome e desnutrição sejam enfrentados a partir dos sistemas alimentares, fazendo com que a cadeia de abastecimento favoreça a disponibilidade e produção de alimentos saudáveis, promovendo também ambientes alimentares sustentáveis. Segundo ele, as dietas saudáveis ​​custam 60% mais caro do que as que apenas respondem às necessidades essenciais.  

“É necessária uma ação urgente para apoiar uma mudança que torne as dietas saudáveis ​​disponíveis”, frisou. Ríos disse que se pode afirmar que o apoio da Cooperação Brasil-FAO em alimentação escolar gerou “uma revolução nos programas de alimentação escolar na região”, afirmando que na região houve avanços em termos de política alimentar escolar com base no Direito Humano à Alimentação. Da mesma forma, ressaltou o papel da RAES como um espaço de troca de experiências, lições aprendidas e de promoção do diálogo entre os países. 

Inclusão da gastronomia 

O diretor da Junta Nacional de Assistência Escolar e Bolsas do Chile (Junaeb), Jaime Tohá, e Juan Pablo Mellado, chef consultor da FAO e diretor do Laboratório de Gastronomia do Junaeb, apresentaram a iniciativa de inclusão da gastronomia como estratégia para a redução do desperdício de alimentos nos programas de alimentação escolar do Chile, da Guatemala, da Colômbia e da República Dominicana. Segundo Tohá, o programa chileno já contava com a contribuição nutricional e de segurança do alimento, mas faltava incluir o elemento da gastronomia, o que levou à criação do Laboratório Gastronômico, há 4 anos. Com esta iniciativa houve um aumento na aceitação de alimentos pelos alunos. O laboratório reconhece as realidades alimentares dos territórios e povos indígenas e tem a alimentação como veículo de socialização e educação. 

Mellado apresentou o projeto piloto executado pela FAO em três países que incluiu critérios e técnicas gastronômicas nos cardápios escolares. Foram introduzidas técnicas como: uso de especiarias e ervas aromáticas para realçar sabores e o preparo de sucos com ingredientes naturais, além de melhoria das práticas sanitárias, entre outras. O impacto demonstrado pelo projeto piloto foi um aumento na aceitação do cardápio e uma diminuição nas perdas e desperdícios de alimentos nas escolas. “Investir em gastronomia traz benefícios em termos de otimização do uso de recursos públicos”, disse o chef chileno. 

Este diálogo regional foi a primeira atividade promovida pela RAES em 2021 e deu início às discussões sobre a questão do desperdício de alimentos em ambientes escolares no âmbito da Rede. Para este ano, o projeto Consolidação de Programas de Alimentação Escolar, que promove a Rede, realizará outros seis eventos virtuais sobre temas já identificados e relevantes para os programas de alimentação escolar na América Latina e no Caribe.

Conteudo produzido pela equipe do projeto Consolidação de Programas de Alimentação Escolar na América Latina e no Caribe, publicado originalmente no site da Cooperação Brasil-FAO