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Encontro internacional apresenta melhores práticas de educação alimentar e nutricional na América Latina

Evento realizado pela Cooperação Brasil-FAO em alimentação escolar no Panamá reuniu 10 países e aprofundou intercâmbio sobre EAN 

Paulo Beraldo

Cidade do Panamá, Panamá, 27 de setembro de 2023 – Cozinheiras, nutricionistas e docentes dos programas de alimentação escolar de 10 países da América Latina se reuniram entre os dias 25, 26 e 27 de setembro, no Panamá, para intercambiar as melhores práticas de educação alimentar e nutricional (EAN) executadas na região. 

O encontro foi uma iniciativa do projeto Consolidação de Programas de Alimentação Escolar na América Latina e no Caribe, executado conjuntamente pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Juntas, as instituições também promovem a Rede de Alimentação Escolar Sustentável (RAES). 

Participaram representantes de Brasil, Colômbia, Equador, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Paraguai, Peru, Venezuela e Cuba. O evento teve a presença especial de cozinheiras e nutricionistas brasileiras que participaram do reality show ‘Merendeiras do Brasil’, criado pelo FNDE para dar visibilidade ao papel dessas profissionais na execução dessa política pública que alimenta mais de 40 milhões de estudantes. Viajaram ao Panamá duas merendeiras e cinco nutricionistas das cidades de Capitão Leônidas Marques-PR, Lucena-PB, Itati-RS, Mogi das Cruzes-SP e Maravilha-SC. 

Gilnei Costa, diretor de ações educacionais do FNDE, exaltou o papel das nutricionistas e merendeiras, que “contribuem para incentivar o debate sobre ações de EAN no ambiente escolar” e disse que essas profissionais têm papel fundamental na qualidade da alimentação oferecida. Por isso, devem ser capacitadas para se tornarem educadoras alimentares e estimular seus colegas de trabalho. “Para o PNAE funcionar na sua integralidade, é necessário que todos tenham o trabalho reconhecido. E é isso que estamos fazendo hoje, porque as cozinheiras também fazem parte do processo educativo”. 

Gustavo Guimarães, em representação da Embaixada do Brasil no Panamá e falando em nome da ABC, agradeceu às instituições participantes pelos mais de 14 anos de trabalho conjunto para fortalecer a alimentação escolar no continente e reforçou que os intercâmbios de experiências vêm gerando resultados muito significativos para a região, fortalecendo a institucionalização e a sustentabilidade da política de alimentação escolar. 

Israel Rios, oficial de nutrição da FAO, detalhou os dados de má nutrição da região e reforçou o potencial dos programas de alimentação escolar, mencionando o papel das cozinheiras em valorizar os produtos locais da agricultura familiar e de preparar receitas adaptadas à cultura local. “Além disso, há muito potencial para integrar a EAN promovendo atividades que estimulem o conhecimento”.

Experiências e depoimentos

As merendeiras e nutricionistas compartilharam a emoção de participar de uma premiação que lhes deu visibilidade e projeção no Brasil e na região. No concurso, participaram 15 merendeiras, com cinco vencedoras. Elas foram acompanhadas por cinco nutricionistas parceiras. “Participar do reality show e dessa viagem para esse intercâmbio coroa um trabalho desenvolvido com dedicação, seriedade e comprometimento. É importante valorizar e reconhecer nutricionistas e merendeiras, que preparam com todo amor e carinho aquele alimento servido para nossas crianças diariamente”, comentou a nutricionista Christiane Tremea, de Maravilha-SC. 

Geralda Silvano, de Mogi das Cruzes-SP, sonhou ser merendeira desde a infância, quando trabalhava no campo. Emocionada, disse que era uma honra participar de um evento internacional. “É muito emocionante saber que seu município está no caminho certo. Eu amo o que eu faço e não tem nada melhor do que cozinhar alimentos saudáveis que vão fazer a diferença na vida das nossas crianças”.

A merendeira Alaia Silveira, de Maravilha-SC, reforçou que muitos estudantes têm na escola a sua primeira alimentação do dia e que essa política contribui para combater a fome. “Muitos vão para a fila com o prato na mão e até repetem, eles chegam eufóricos para a hora das refeições. Sou muito feliz de ser parte da alimentação escolar porque não dá para aprender de barriga vazia”. 

As experiências de educação alimentar e nutricional da região

Três experiências de EAN feitas por docentes foram destacadas no evento. A professora Esmeralda Ruiz, de El Salvador, contou que tudo começou com sua participação em um diplomado oferecido pela Cooperação Brasil-FAO em alimentação escolar. Surgiu daí a ideia de implementar ações de EAN no seu centro educativo no interior do país. 

Ela conseguiu apoio da direção da escola e começou a organizar as iniciativas, que hoje estão cada vez mais organizadas, inclusive dentro do currículo. São desfiles, feiras, ações educativas, diálogos com agricultores e a comunidade local, inclusive os pais e mães dos estudantes. “Tudo com a perspectiva de que todo estudante tem o direito a receber uma educação e uma alimentação de qualidade, como parte de seu bem-estar e de sua saúde”.

Com o docente Manuel de Jesus, da Nicarágua, a história foi similar. Ele está finalizando em 2023 uma formação profissional oferecida no país com apoio da Cooperação brasileira e do governo local. Ele destacou o papel da horta escolar, com metodologia participativa e dinâmica, para que os estudantes se sintam protagonistas das ações. “Podemos inseri-lo em distintas disciplinas, é uma sala de aula viva. Também fazemos palestras para os pais e mães sobre a importância da boa alimentação dentro de casa. Assim conseguimos o compromisso dos estudantes e das famílias também”. Também mostrou como estão inserindo alguns produtos como tilápias na alimentação escolar. 

O Peru trouxe o professor Nolberto Castañeda, da comunidade indígena de Asháninka, que contou sobre o trabalho após participar da capacitação oferecida no país com apoio da Cooperação. Mostrou as melhorias em sua escola sustentável com um “antes e depois” e disse que implementa ações de EAN envolvendo as famílias, inclusive com uma biohorta escolar de 500 metros quadrados, onde se plantam alimentos regionais. “Os professores têm esse papel de compartilhar os conhecimentos e dar o pontapé inicial dessas ações, motivando os estudantes e a própria comunidade a avançar”.

Capacitações

Além das experiências dos docentes, profissionais do Paraguai, de El Salvador e do Peru mostraram a relevância das capacitações dos profissionais locais para o fortalecimento da política de alimentação escolar. 

Alcira Quintana, da FAO no Paraguai, explicou que os cursos e capacitações oferecidas têm melhorado as habilidades dos profissionais, gerando espaços de intercâmbio, de reflexão e portanto produzindo melhorias concretas no programa ao longo dos anos. Ela contou sobre a mais recente capacitação desse tipo, apoiada pela Cooperação Brasil-FAO e que chegou a 100 gestores do sistema educativo. 

Karla Vela, nutricionista de El Salvador, apresentou propostas de metodologias para capacitar diferentes profissionais – desde docentes, gestores, estudantes, pais e mães, além de envolver toda a comunidade educativa. Apresentou um curso com visão integral em saúde, educação, nutrição e agricultura, com aulas online, oferecido para os 14 departamentos do país. “O resultado são conhecimentos fortalecidos para aplicar no processo de ensino e na implementação da alimentação escolar”. 

Justo Pozo, vice-ministro de benefícios sociais do Peru, falou sobre um curso online apoiado pela cooperação brasileira que chegou a 1.355 profissionais da alimentação escolar do país. Reforçou que é uma iniciativa que gera impactos nos territórios e que o país pretende continuar trabalhando conjuntamente nesse tipo de ação.

Para Najla Veloso, coordenadora do projeto regional de alimentação escolar, os países mostraram que institucionalizar a EAN dentro do programa de alimentação escolar é um caminho para fortalecê-la. E disse que a Cooperação tem construído com os governos uma referência de diálogo na região com a metodologia das Escolas Sustentáveis, já presente em 13 países. 

“É importante que os países consigam organizar as políticas e perceberem práticas concretas de alimentação escolar sustentável”, afirmou. “A EAN é fundamental para fortalecer a política de alimentação escolar. Essa foi e seguirá sendo uma das prioridades do trabalho nos próximos anos, por isso parabenizamos os países pelo comprometimento em seguir fortalecendo essas ações”.